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Mineiros em Paris

  • Ana Júlia Corrêa, Maria Polito, Soraia Carvalho e Yasmim Mogesis
  • 19 de out. de 2024
  • 5 min de leitura

Atualizado: 27 de out. de 2024

Atletas falam das expectativas para os Jogos Paralímpicos de 2024


Ana Júlia Corrêa, Maria Polito, Soraia Carvalho e Yasmim Mogesis


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De 26 de julho a 11 de agosto deste ano, a Cidade da Luz será palco dos Jogos Olímpicos de 2024. A chama da Paralimpíada iluminará a capital francesa no dia 28 de agosto e encantará o mundo até 8 de setembro, data de encerramento dos jogos. Com o slogan “Games wide open” (“Jogos bem abertos”, em tradução livre), Paris, que já foi anfitriã das Olimpíadas em outras duas ocasiões, em 1900 e 1924, se comprometeu em realizar um evento sustentável, além de mais acessível e inclusivo. São trinta modalidades esportivas olímpicas e dezenove paraolímpicas em que os atletas brasileiros irão representar o país.


As Olimpíadas de Tóquio foram mais do que diferenciais, realizadas durante a pandemia. Apesar dos pesares, os comitês buscaram influenciar um público mais jovem como telespectador e tiveram grande resultado com a inserção de novos esportes, como o skate, que teve um destaque para os brasileiros com nossa querida Rayssa Leal (a ex-fadinha), o surfe, o beisebol, além do karatê, que também contou com participação brasileira. 


Infelizmente, muitas outras modalidades não possuem tanta visibilidade na mídia ou para o público geral, tendo em vista a realidade de desvalorização dos esportes e baixo investimento do estado, baixa cobertura pelos grandes veículos, falta de infraestrutura, entre outros. Esses fatores, alinhados com a grande comoção nacional restrita a apenas alguns esportes, por uma parte da sociedade, levam ao desconhecimento e desvalorização de outras modalidades esportivas.


É importante pensar que as modalidades das competições paraolímpicas foram, e ainda são, processos de adaptação, conquistas e repaginação, e vão se modificando e revelando diferentes esportes e atletas. Brasil, país do futebol? Em 2004, foi incluído nos esportes paralímpicos o futebol de cinco, a modalidade adaptada para deficientes visuais. Os brasileiros conquistaram cinco medalhas de ouro desde então, vencendo todas as competições – em Atenas, Pequim, Londres, Rio e Tóquio –, igualando o feito da Seleção Brasileira de Futebol como únicos pentacampeões do mundo. Podemos também observar caminhos dos brasileiros em novas modalidades paralímpicas, como remo, halterofilismo (levantamento de peso) ou o parabadminton, que aguardam seu reconhecimento.


Outra modalidade estreante nos jogos de Tóquio foi o Parataekwondo, que foi representado nas paraolimpíadas de 2024 pelo atleta Claro Lopes, mineiro de 33 anos. Dono da medalha de bronze na categoria até 80 Kg nos Jogos Parapan-Americanos de Santiago 2023, o atleta iniciou a carreira no parataekwondo em 2018, após sofrer um acidente de trabalho e perder a mão e o punho direitos. Com experiências prévias em outras artes marciais, como jiu-jitsu, muay thai e MMA, Claro foi introduzido ao parataekwondo pelo Mestre Alan Nascimento. “Depois que entrei no esporte e conheci as artes marciais, minha mente mudou totalmente. Acho que a mente de qualquer atleta muda.”


O esportista aponta divergências entre modalidades e explica as adaptações feitas nas competições paraolímpicas. Diferentemente da categoria padrão, o taekwondo paraolímpico restringe chutes contra a cabeça e o uso de socos, perante penalidade e desclassificação. Nos preparativos finais para as Paraolimpíadas, Claro, que estava treinando em Curitiba, tirou um tempo para falar conosco.


Como você lida com a pressão de ser um atleta de alto rendimento?

“Meu técnico faz questão de deixar isso o mais leve possível. Ele fala para a gente treinar bastante e entrar na quadra como se estivesse treinando. Lógico, aquela competitividade de ganhar, mas sem aquela pressão, sem aquele nervosismo, que acabam atrapalhando. Quando vão chegando os dias da competição, você fica mais ansioso. A gente tem uma psicóloga que trabalha com isso. No dia da luta, a gente também fica mais nervoso, mas depois que a gente entra em quadra é bem mais tranquilo. Estou com cabeça leve, estou treinando bastante, então tem que só dar o nosso melhor e entrar com a cabeça leve. Entrar com a cabeça vazia e dar nosso máximo lá dentro, e seja o que Deus quiser.”


O taekwondo é uma modalidade relativamente nova nas Paraolimpíadas. Você ficou empolgado quando descobriu que o esporte seria incluído?

“Quando eu conheci o centro paralímpico, meu antigo mestre falou que era uma modalidade nova. Ele falou que a modalidade estava crescendo, [...] a visibilidade ia crescer. Foram três atletas para Tóquio em 2021, e eles voltaram com três medalhas. A modalidade está crescendo muito mesmo, foi aí que eu percebi que realmente eu podia entrar, competir e conseguir algo bom para a minha vida.”


Quais mudanças ou melhorias você gostaria de ver na maneira como o parataekwondo é promovido e apoiado?

“A visibilidade dos outros esportes é bem maior. Não tem tanta visibilidade igual à natação, ao atletismo. É claro que cada esporte tem suas particularidades, mas eu acho que é importante que seja feito um trabalho de divulgação e visibilização mais igualitário.”


Que conselhos você daria para alguém que está começando no parataekwondo agora? 

“Não desistir, continuar. Às vezes você pensa que está difícil, aí amanhã aparece uma luz no fim do túnel e tudo muda, né? No começo, é complicado, mas é a persistência que faz o negócio, então, se você persiste, está trabalhando certo, está fazendo os treinos certo, está correndo atrás, uma hora vai acontecer. 


Ao falar das principais dificuldades em ser um atleta de alto rendimento, Claro Lopes destacou como principal impasse a necessidade de altíssimos investimentos no início de carreira, como em equipamento de treino e proteção, e viagens para competições. Este fator é decisivo sobretudo no começo da carreira, quando ainda não se tem visibilidade, investidores e patrocínios que auxiliem com os custos. 


Em momentos de dificuldade evidencia-se a importância de incentivadores, de ser ter uma rede de apoio voltada pro campo emocional que os auxilie. O atleta cita a sua irmã, Elma, como sendo sua maior apoiadora durante toda essa trajetória. Desde o início, após Claro sofrer o acidente, sua irmã, sabendo que ele gostava muito de esporte e de luta, o incentivou. De acordo com o esportista, durante o período em que Elma esteve em São Paulo, ela foi como uma segunda mãe em muitos momentos, com palavras de incentivo e apoio, permanecendo ao seu lado durante todas as fases. “Ela sempre acreditou que cedo ou tarde eu ia acontecer porque eu tava treinando direto. Não desista, uma hora vai acontecer, uma hora vai acontecer, Deus é contigo. Então, quem nunca me deixou cair foi ela.” 


Questionado sobre sua memória preferida como atleta, Claro mencionou sua classificação para os Jogos de Paris e contou mais sobre os desafios enfrentados durante as seletivas. Ele enfrentou, numa série melhor de três, outro brasileiro, Joel, para determinar qual atleta da categoria até 80kg iria disputar a vaga paralímpica pela seleção. A vinte dias do início da competição, Claro fraturou o braço esquerdo. A equipe médica inicialmente estimou um período de 45 dias para a remoção do gesso, mas após conversas com sua equipe, Claro decidiu tentar e retirou o gesso em apenas 15 dias. Ele diz que sentiu uma inspiração divina para continuar lutando: "Parece que Deus tocou na minha cabeça e falou para eu lutar". O atleta ressalta que este foi um dos maiores desafios de sua carreira, competir sem estar completamente recuperado de uma lesão significativa. Apesar das adversidades, Lopes saiu vitorioso na competição, e após enfrentar Felix Sabates dos Estados Unidos e Eliott Loonstra de Aruba, na República Dominicana, assegurou sua vaga para os Jogos de Paris-2024.


Com o relógio marcando os momentos finais antes do início das Olimpíadas, o mundo inteiro se prepara para torcer por seus atletas preferidos. Tanto os jogos olímpicos quanto os paralímpicos prometem agitar o coração dos brasileiros. Claro Lopes disputará a sua tão sonhada medalha de ouro e, em companhia de mais quatrocentos atletas brasileiros, representará o esporte do país. Os meses de julho e agosto serão recheados de eventos esportivos e asseguram entretenimento de qualidade em inúmeras categorias. 


*Matéria produzida antes da realização dos Jogos Olímpicos e dos Jogos Paralímpicos de Paris.

 
 
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